sexta-feira, 27 de julho de 2012

Monsenhor Raimundo: 74 anos de amor ao sacerdócio





Monsenhor Raimundo Sérvulo chegou em Acari no ano de 1996 para auxiliar o saudoso Cônego Deoclides Diniz, que estava enfermo. Depois da morte de “padre Deó”, ele assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Guia e conquistou a todos com sua paciência e serenidade. Mas quem pensa que a vida do pacato e simpático padre que completa nesta quarta-feira (25) seus 74 anos de idade foi fácil, se engana. A caminhada de Raimundo Sérvulo da Silva foi árdua e é ele que nos conta um pouco dela.



História



“Antes de vir pra cá fui pároco de Parelhas e depois fui ser reitor do Seminário de Caicó, retornando em seguida a Paróquia de Parelhas, onde fiquei por muitos anos. Sou natural de Caicó, nasci na zona rural e com 4 anos fui morar na cidade. Lá fiquei como aluno da Escola da Diocese e em 1951 ingressei no seminário, saí e depois retornei”.


Infância



“Quando criança na escola pré- vocacional (escolas que recebiam as crianças filhos dos operários), eu achava tudo aquilo (que envolvia os ritos da igreja) muito atraente. Então Dom Delgado trouxe uma senhora que fazia entrevistas com alunos entre 7 e 9 anos. Ela me disse que meu teste revelava que eu tinha aptidão para a vida sacerdotal. Apesar de sentir isso, nunca comentava com ninguém sobre o meu desejo. Um dia quando tive uma real possibilidade, contei pra minha mãe e ela concordou”.







Família



“Sempre minha família me levava à missa. O canto gregoriano e aquela celebração me atraia desde pequeno. Fui ficando bastante encantado pelas coisas da fé. Sou o segundo filho, entre 8 irmãos, mas apenas eu tive esta voacação. Meus pais eram muito religiosos, tinham grande veneração aos sacerdotes, à Nossa Senhora, ao Sagrado Coração de Jesus e a tudo que era da igreja”.



Frei Damião


“Em 1949 Frei Damião veio ao Seridó, eu ia toda noite à Catedral assistir à programação católica. Um dia eu fui sem minha mãe, e quando ele já estava dentro do carro de saída, eu disse a ele que queria ser padre. Ele riu e falou que queria me levar na mesma hora, mas respondi que não poderia ir, pois não tinha combinado com minha mãe”.


Monsenhor Walfredo Gurgel


“Em fevereiro de 1951, eu estava na feira das frutas quando uma senhora me pediu pra deixar a feira em sua casa. No caminho avistei um padre muito jovem sentado num bar conversando. Eu fui deixar a feira e voltei pelo mesmo caminho. Eu queria dizer a ele que gostaria de ser padre também. Fiquei pensando no padre, e de repente ele chegou até mim. O nome dele era Walfredo Gurgel. Na mesma hora eu revelei o meu desejo! E logo depois o padre se informou sobre mim e minha família e marcou uma conversa pra o dia seguinte. Foi aí que conversei com minha mãe, comentei que gostaria de ir pro seminário. Minha mãe disse que eu era pobre e que não daria certo, pois pobre não era padre! Mas depois arrumou minhas coisas e levou-me. No dia seguinte fui conversar conforme o combinado, eu tinha ainda 11 anos. Ele me encaminhou ao seminário com uma carta. Monsenhor Walfredo me ajudou financeiramente e consegui enfim estudar lá”.



Primeira saída do Seminário


“No seminário existiam muitas exigências, inclusive em relação a vida de nossos familiares. Existiam regras! E por causa dessas exigências, tive que sair. Fui afastado. Passei muito tempo não sabendo o motivo disto, mas muito tempo depois soube que especulavam sobre a vida de meu pai, mas logo se confirmara que nada era verdade. Eu achava o seminário muito bom. Muita disciplina, muito silêncio, muito estudo! Me adaptei logo, mas chorava muito com saudade de meus pais. Nós internos íamos muito pouco em casa. Mas eu nunca quis desistir! Os padres eram homens exemplares, mas eram pessoas muito rígidas. Se a gente tirava notas baixas, eles nos chamavam atenção. Na verdade, eu nunca fui bem em matemática e tinha medo deles me mandarem embora por causa disso, mas jamais fiquei com notas ruins! Quando eu voltava pra casa de férias, todas as manhãs ia à missa. A minha família jamais pedia para eu deixar o seminário, pois era do agrado deles eu me tornar padre”.


Segunda saída do Seminário



“Depois consegui voltar ao Seminário, mas novamente fui convidado a sair, e desta vez, fiquei ajudando em casa e passando alguns anos sem estudar. Tudo era muito difícil naquela época! Foi aí que em 1955 apareceu um monge de Olinda e me levou a falar com Monsenhor Walfredo novamente, e pedir para voltar estudar. Mesmo sem poder pagar eu consegui retomar meus estudos, na época me escrevi em bolsas federais”.


Amigo dos colegas


“Mas no seminário de Natal, fui escolhido para ser prefeito de disciplina, era uma espécie de coordenador de turmas. Lá participei do Movimento da Juventude Estudantil Católica, e nele aprendi a ser leal com meus amigos, sendo um apóstolo para eles quando necessitava. Como era prefeito de disciplina, precisava organizar as tarefas do meu grupo. Tínhamos que varrer, apanhar folhas, entre outras atividades. E quando meus companheiros não faziam suas tarefas, eu mesmo fazia. Eu não dedurava meus amigos! O diretor vinha pedir que eu dissesse quem não estava fazendo o serviço direito e eu não conseguia. Daí eu me compliquei por lá, me mandaram embora! Falaram que eu estava servindo de diretor espiritual dos seminaristas, que eu era rebelde. Eu fiquei sofrido porque eu tinha aprendido que essa era a atitude certa. Mas voltei para casa! Depois recebi uma carta do diretor do seminário dizendo que eu estava certo, que continuasse assim. Voltei a trabalhar no seminário de Caicó, dando aulas, fazendo a contabilidade do seminário lá. Isso criou uma indisposição com o bispo e ele não me deu mais resposta por algum tempo”.


Educação de Base


“Passado o tempo, o bispo achou por bem me convidar para trabalhar no Movimento de Educação de Base que iria começar no estado (este movimento serviu de pontapé inicial para o movimento sindical no RN). O movimento levava educação através das Rádios Rurais, um trabalho de evangelização nas escolas e na zona rural, que Dom Eugênio tomou conhecimento e trouxe para o RN. Nessa mesma época fui convidado também a ser professor de latim, num colégio estadual. Na verdade, o meu desejo era ser padre, mas como eu reconhecia que não havia possibilidade, me conformei. Foi então que surgiu oportunidade de estudar em Natal. Deveria escolher um curso superior e meus colegas me mandaram vários panfletos sobre cursos pra eu escolher um. Mas foi aí que fui me confessar com um padre e contei o que se passava em meu coração”.

Vocação


“Fui me confessar um dia, e falei para o padre Agripino, que iria tomar a decisão de me casar. Eu conhecia uma moça e tinha simpatia por ela, apesar de nunca ter tido nenhum contato. O padre me perguntou se eu tinha compromisso com a jovem, e eu respondi que não. Eu afirmei meu desejo de ser padre. Então ele em seguida conversou com o bispo. Depois de alguns dias, Dom Manoel Tavares de Araújo me chamou e me convidou para uma conversa. Ele me disse que sempre acreditou em minha vocação, mas que haviam lhe dito que eu era rebelde, e por isso nunca me deixavam ficar no seminário. ‘Diziam que você queria ser o diretor dos meninos, completou ele’. Eu me defendi dizendo que era apenas amigo dos meus companheiros, que fazia como achava certo, não seria um delator”.


Ordenação

“Quando conversei com Dom Manoel Tavares (ele era o bispo na ocasião) ele se comunicou com o reitor do seminário de Olinda e Recife (Monsenhor Marcelo Cavalera), que afirmou que me receberia lá se eu quisesse. Eu fui e achei uma beleza! O reitor era muito querido lá, fiquei admiradíssimo. Parecia o ginásio. E decidi aceitar o convite. Assim fui para a Teologia e quis fazer também um ano especial de Filosofia na Universidade Católica, em Recife. Para me ordenar padre eu passei por muitos sofrimentos, mas não me arrependo, faria tudo de novo. Apenas em 1970 me ordenei padre e recebi uma paróquia, a de Parelhas”.


Acari
“Me sinto bem aqui, conto com a colaboração de pessoas muito dedicadas tanto nos aspecto pastoral quanto no aspecto da administração. Trouxe minha mãe pra cá recentemente e daqui não saio mais. Apenas quando Deus me chamar”.




fonte: Blog PT de Acari

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